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Espiritualidade é a pergunta que nunca se cala.

Eu cresci numa família católica.
Missa todo domingo, terço na sala, cheiro de vela e incenso grudado na roupa.

Fiz tudo conforme a cartilha: primeira comunhão, crisma...
(na verdade, mais por insistência da minha mãe do que por escolha própria, “obedece quem tem juízo”, não é?).

Na adolescência, entrei num grupo de jovens.

Não vou mentir: minha maior motivação era a música. É uma arte que sempre me encantou e me moveu.
Violão, teclado, contrabaixo… autodidata, sempre com facilidade em aprender observando e praticando.
E ali fiquei por anos, vivendo a rotina religiosa.

Até que um dia...
Simplesmente não fazia mais sentido.

Eu vi coisas que não batiam com aquilo que se pregava.
Pequenas incoerências que viraram rachaduras.
E quando você começa a ver as rachaduras, não consegue mais “desver”.

Aos poucos, me afastei.
E nesse espaço, comecei a explorar outros caminhos.
Li sobre religiões orientais, mergulhei em doutrinas diferentes, devorei livros que falavam de Deus sem usar a mesma linguagem que eu tinha ouvido a vida inteira.

E quanto mais eu estudava, mais percebia uma coisa desconfortável:
Eu não sabia nada.

Mas era justamente isso que me puxava pra frente. Eu sempre fui muito curiosa em entender o mundo, as questões extrafísicas, o que não se vê com os olhos físicos.

Percebi que a espiritualidade não cabe em uma caixinha de dogmas, mas é um campo aberto, invisível, que se insinua na vida o tempo todo... que se mostra em cada momento que ignoramos.

E é por isso que hoje eu não digo que “tenho uma religião”.
Eu digo que tenho uma busca.

Espiritualidade, pra mim, não é decorar rezas ou seguir regras.
É perceber que existe uma força maior movendo tudo, e que, de algum jeito, essa força também pulsa dentro de nós.

É aceitar que somos parte de um mistério.
E, ao mesmo tempo, que o mistério inteiro está dentro de nós.

E tudo bem se você tem a sua religião, pois esse é o seu meio de viver a espiritualidade.

Só que por aí, muita gente confunde espiritualidade com vitrine.
Velas perfumadas, cristais cuidadosamente alinhados na estante, hashtags de “good vibes only”.
Nada contra velas, cristais ou boas vibrações, pelo contrário, a energia destes elementos é cientificamente comprovado e eu uso deles para me reequilibrar.
Mas se tudo isso não te confronta, não te desmonta, não te coloca frente a frente com quem você é de verdade… então é só decoração de alma.

Tem também o outro extremo: a espiritualidade como régua moral.
“Não pode isso, não pode aquilo, se fizer tal coisa não é iluminado.”
Curioso, não? Transformar algo que deveria ser expansão em mais uma prisão de regras.

Obs. Por favor, não me odeie por gerar estes desconfortos, afinal, esta newsletter é para isso: causar desconfortos… que geram reflexões… e que estas reflexões sejam ferramentas de expansão!

E talvez a maior contradição seja essa:
Muita gente busca espiritualidade como um jeito de fugir da dor.
Quando, na prática, espiritualidade verdadeira é justamente a coragem de atravessá-la.

Não é anestesia.
Não é máscara.
É liberdade.
E liberdade não cabe em molde nenhum.

Quanto mais tentam encaixotar a espiritualidade em um pacote bonito, mais ela escorre pelas frestas.
Ela não é uma resposta definitiva.
Ela é a pergunta que nunca se cala:

Quem somos, afinal, dentro desse invisível que nos move?

E você?
Quando pensa em espiritualidade, pensa em paz pronta...
ou numa busca que exige coragem pra encarar o invisível?

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— Uma Voz

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